Por Rubens Bacelar
Não é a toa que a flor tem o dom de atrair e emocionar
pessoas com visões e pontos de vistas totalmente diferentes, seja o cientista
que logo vai querer estudá-la, profundamente, desvendando os seus segredos, ou o pintor
que, apaixonadamente, quererá retratá-la
em cores vivas e realistas, também o poeta que, inspirado, comporá um belo poema em sua homenagem, o
homem de negócios perceberá que tamanha beleza é lucrativa, podendo ser
difundida para muitas outras pessoas, ou, ainda, um religioso que, por certo, agradecerá a Deus pela criação de tão formosa
estrutura e a mais simbólica e romântica de todas essas emoções é a intensa
alegria e prazer de uma mulher quando ganha um buquê de flores do seu amado.
Mesmo o indivíduo sem nenhuma dessas motivações, citadas
acima, ainda se sentirá atraído pelas cores, formas, perfume e beleza geral
delas, não deixando de reverenciá-las, às vezes, discreta e até silenciosamente,
com seu olhar de admiração e carinho.
O
que é uma Flor?
A belíssima e perfumada flor, Dama da Noite (Cestrum nocturnum)
Quem vê uma linda e delicada flor não imagina quanta
sabedoria, inteligência e astúcia evolutivas elas desenvolveram para sobreviver
e se multiplicar. Mas o que é uma flor? Para os
botânicos uma flor é simplesmente um pequeno galho ou ramo especializado, cujas
folhas se modificaram formando os órgãos de reprodução da planta.
No livro "Fundamentos da Biologia Moderna"
os autores, Amabis e Martho, escrevem
que uma flor completa tem quatro verticilos florais, conjunto de folhas
especializadas ao redor de um ramo curto, o receptáculo floral e protegendo-a
estão as sépalas que juntas denominam-se cálice, também as pétalas
que além de protegerem, atraem polinizadores e reunidas são chamadas de corola,
mais internamente estão o órgão masculino, chamado de androceu e o feminino, de
nome gineceu.
As flores existem há muito tempo, mais tempo do que
pensavam os pesquisadores. Recentemente os paleobotânicos (estudiosos dos
vegetais fósseis) descobriram pólens fossilizados de flores primitivas com mais
de 240 milhões de anos de idade, do Período Triássico, o primeiro período da Era Mesozóica, quando os
dinossauros ainda não dominavam nosso Planeta.
A
Polinização
A polinização é o encaminhamento do grão de pólen, do
órgão masculino, onde é produzido, para o órgão feminino da mesma flor ou de
outra flor de espécie idêntica, ocorrendo a fecundação e aí o ovário da flor
vira fruto e o óvulo transforma-se na semente contendo o embrião da futura
planta.
Uma flor completa, como já vimos, tem os dois órgãos,
tanto o masculino (androceu) quanto o feminino (gineceu) e, portanto, ela pode polinizar a si mesma, só
que tal processo não traz vantagens para ela, uma vez que não permite a
variabilidade genética, então, a flor, habilidosamente, cria mecanismos que evitam a
autopolinização.
Ela pode amadurecer um órgão de cada vez (masculino ou
feminino) ou pode gerar uma esterilidade tornando o grão de pólen incompatível
com o órgão feminino, ainda criar uma diferença de tamanho entre os órgãos que
impede a fecundação, enfim, é uma forma de realizar a chamada reprodução
cruzada, com outras flores da mesma espécie.
Harmonia
com o Ambiente e as Criaturas
Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que a flor vive em
perfeita harmonia com o ambiente, onde consegue mobilizar, a seu favor, tanto
as forças da natureza (vento, água)
quanto legiões inteiras de criaturas com alta capacidade de mobilidade, como insetos, pássaros e mamíferos, utilizando-se, para isso, de atrativos como
beleza, cor, cheiros de vários tipos e até sabores, como o delicioso néctar que
disponibiliza para alguns deles.
Esses seres as auxiliam, voluntariamente, a gerar novas
plantinhas e proliferar pelo Planeta, isto ocorre por meio da polinização, Poderíamos imaginá-las, do ponto de vista humano (fantasiando
um pouco) como damas lindas, graciosas, inteligentíssimas e cheias de gratidão.
Para ser polinizada
pelo vento, as flores produzem muito pólen dotados de pequenas “asas” para
flutuar, facilmente, não precisam ser tão charmosas, entretanto, devem ter estames (partes do órgão masculino) longos
que balançam, lançando muito pólen para o vento carregar, enquanto o estigma (parte do órgão feminino)
apresenta abertura maior para receber os grãos,
que “pousam” sobre ela
Bonitas, muito coloridas e cheirosas para
agradar aos exigentes e laboriosos insetos
No entanto, para atrair os insetos que são bem exigentes,
elas se apresentam muito coloridas e perfumadas e o grão de pólen é dotado de
ganchos ou tem aderência para grudar no corpo dos bichinhos, uma “encomenda”
prontinha e muito prática para o transporte.
Coloridas, belas e com delicioso néctar para
conquistar o velocíssimo Beija flor
Da mesma forma para receber a visita de aves como o elegante
beija-flor, durante o dia, elas precisam
estar bonitas, bem coloridas e ter algo delicioso para a visita saborear, como
o néctar,
Muito cheirosas e com saboroso néctar para
atrair
um dos mais eficientes e dedicados polinizadores
um dos mais eficientes e dedicados polinizadores
Mas as que são polinizadas por um bichinho que gosta de
sair à noite, um notívago, como o morcego, devem ser extremamente cheirosas, para serem localizadas, obviamente, não
necessitam ser vistosas, isso não adiantaria na escuridão, mas tem que agradar ao
ilustre visitante, com a gostosa substância açucarada, o néctar, uma espécie de
“manjar fino”, para ele, que funciona como um, “grata, volte sempre”..
Num belíssimo artigo
que li, intitulado, Morcegos: O Chamado das Flores Susan Mcgrath, narra com detalhes o
momento exato em que o pequeno morcego Glossophaga
commissarisi poliniza uma flor da
planta Mucuna (parente do feijão) resumindo o que ela descreve, o bichinho
enlaça a flor, num abraço rápido, inserindo seu focinho na fenda aberta pela
própria flor e lança sua lingua comprida arrebentando a fava, lhe dando acesso
ao tão desejado néctar, enquanto o órgão produtor de pólen da flor, já livre,
polvilha pólen, de cor amarelo-ouro nas costas do morceguinho.
Hibisco, a Flor que
Vive 1 Dia
A bonita flor do Hbisco, uma existência passageira
Imagem: Pixabay
A bela e delicada
flor do Hibisco, vive apenas um dia e inspirado nela existe um lindo pensamento
– “Viva cada dia, como se fosse o único
para se viver”, isso significa viver a vida com qualidade, sabedoria,
responsabilidade e maturidade, levando em conta sua individualidade,
interesses e motivações.
A
Flor Cara de Macaco
A pequena orquídea com as feições de um símio
As orquídeas são flores que
tem a merecida fama de serem lindas e exóticas, terem as formas mais diversas, lhe
dando aparências inusitadas, porém, uma que apresenta traços exatos da
fisionomia de uma criatura de outro reino, isso sim, parece inacreditável.
Mas esta florzinha exibe,
claramente, o rosto de um macaco e suas sépalas são parecidas com caninos bem
pontudos, como as presas do famoso vampiro do cinema, o Drácula, atribuindo-lhe
uma aparência esdrúxula, para um vegetal.
É uma flor raríssima de nome científico Dracula Símia, seu descobridor foi o cientista chileno Hugo Gunckel
Luer e ela floresce nas matas do Peru e Equador.
A Flor Negra
Ela
parece erguer-se, majestosamente, da vegetação verde, destacando-se
Nos acostumamos a ver flores de coloridos deslumbrantes e
formatos mais familiares e interessantes que nem imaginamos que possam existir
outras de aspectos diametralmente opostos. É o caso da Flor Negra (Tacca Chantrieri) ela apresenta
uma beleza peculiar que contrasta com as
outras flores de colorido brilhante e não exala nenhum cheiro.
Dela pendem fios
longos que lhe conferem uma aparência ainda mais distinta e, reforçando esta
distinção, suas inigualáveis pétalas escuras,
parecidas com as asas abertas de um morcego, fazem com que ela se
assemelhe a esse bichinho e por isso, seja, também, chamada de Flor Morcego.
Rafflesia
arnoldii, A Maior Flor do Mundo
A gigantesca Rafflesia Arnoldii, um tanto fora dos
padrões “normais” que estamos
acostumados
Outro hábito que temos é o de imaginarmos flores sempre
com dimensões um tanto reduzidas, de poucos centímetros, mas a verdade é que
existe uma flor considerada a maior do mundo, chamada Rafflesia Arnoldii, que
mede mais de 1 metro de diâmetro e pesa mais de 10 quilos, ela foi descoberta
por dois pesquisadores ingleses em 1818. A grandiosa e bela
flor foi batizada com o nome dos dois cientistas que tiveram o privilégio de
encontrá-la, Stamford Raffles e Joseph
Arnold.
Lótus, a incrível capacidade de manter-se
sempre limpa, comprovada, cientificamente.
sempre limpa, comprovada, cientificamente.
Imagem:
flickr
Para o budismo a
flor-de-lótus representa a pureza do corpo e da mente, a flor emerge do fundo
lamacento e cresce em direção à superfície buscando a luz, se mantendo, impecavelmente, limpa e bonita,
simbolizando o indivíduo em seu crescimento espiritual.
Apesar de nascer na lama e suas raízes permanecerem
fincadas nela, a perfumosa flor, de brancura imaculada, se mantém, muito limpa e seca, ocorrendo o mesmo com as grandes
folhas da planta, isso é algo que impressiona até os cientistas que descobriram
que elas são capazes de se limparem sozinhas, podendo expulsar água, pó, lama,
fungos, permanecendo, limpas e brilhantes.
E o mais intrigante para os estudiosos, a flor-de-lótus é
capaz de gerar calor, como um ser humano (temperatura de 35º) ela faz isso para
poder atrair insetos, facilitando a polinização, essa regulação de temperatura
num mamífero é perfeitamente compreensível para a ciência, mas num vegetal é
ainda um grande mistério.
Realmente, faz muito sentido ela gerar calor, pois está
sempre dentro d’água isso a tornaria bastante
fria e sabemos que os insetos não apreciam coisas geladas, portanto, recepcionando-os
num ambiente agradavelmente aquecido, o retorno de um potencial polinizador é
garantido. Que artifício maravilhoso dessa florzinha!
Para completar esse
leque de qualidades, os cientistas recolheram uma semente de lótus, no fundo de
um lago, que tinha mais de 1300 anos de idade, porém, o mais impressionante é
que a sementinha ainda estava em condições de ser plantada, pois manteve,
durante todo esse tempo, sua capacidade de germinar, intactas, demonstrando uma
longevidade extraordinária.
Nascimento de Buda em Lumbini, retratado na
parede de um templo no Laos
Buda, o mestre religioso, fundador do budismo, tinha um
carinho especial pela flor de lótus. Diz-se que quando ele nasceu e começou a
andar, onde pisava desabrochava uma flor de lótus. Certa vez Buda chamou
quatro discípulos e segurando uma bela
flor de lótus pediu-lhes que descrevessem
o que tinha nas mãos.
O primeiro respondeu fazendo uma dissertação intelectual sobre flores, o segundo a
descreveu como um grande poeta, criando, inclusive, um lindo poema sobre ela, o terceiro
construiu uma perfeita parábola para
descrever a bela flor, o quarto discípulo, bem mais objetivo, chegou perto do
mestre, tocou a flor, carinhosamente, com seus rosto, a cheirou e disse tratar-se
de uma flor- de-lótus, simples e bela como tudo aquilo que é oriundo de Deus.
Buda ficou satisfeito com sua resposta e disse que ele
tinha sido o único discípulo que realmente havia identificado o que ele
segurava, uma bela e simples flor de lótus. Um outro grande
exemplo do importante significado das flores para os budistas, ocorreu
num remoto mosteiro, um discípulo
perguntou ao seu mestre como deveria fazer para não se aborrecer com as
imperfeições das pessoas, daquelas que caluniam,
mentem, das que são ignorantes ou indiferentes, enfim, ele enumerou uma série de defeitos que
observava nelas, fazendo-o sofrer e até odiá-las e a resposta do mestre foi um
conselho simples e interessante,
que ele
vivesse como as flores.
Disse-lhe isso,
olhando os belos lírios de um jardim próximo, então, o jovem discípulo quis
saber o que isso significava e o sábio explicou-lhe que as flores apesar de
nascerem no adubo (estrume) surgem
perfumadas e puras, tirando o melhor daquela matéria pouco cheirosa, para
viverem, belas, espalhando um agradável odor pelo ar.
Assim, ele deveria fazer, extrair dos outros o melhor possível para ser feliz,
pois as imperfeições pertenciam aos outros e não a ele, por isso, não havia
motivos para perturbação e finalizou dizendo que viver como as flores,
significava desenvolver a virtude de rejeitar, sabiamente, todo o mal que
viesse de fora.
O mestre Jesus, no Sermão da Montanha
Imagem: wpclipart
A Bíblia menciona cinco flores, dentre elas está o lírio.
Segundo São Mateus (um dos apóstolos de Jesus Cristo) durante o famoso discurso no Sermão da Montanha, Jesus
fez um verdadeiro elogio às flores, dizendo: “Olhai os lírios-do-campo, eles não trabalham nem tecem, no entanto, eu vos digo que nem Salomão, em
toda a sua glória, se vestiu como um deles”.
Temos mais uma alusão
a esses belos seres vegetais, em
Cânticos 5:13 “Suas faces são como
um jardim de especiarias que exalam perfume. Seus lábios são como lírios que
destilam mirra”.
Aprecie Algumas Belas e Exóticas Flores
...
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